Conforme depoimento
publicado em vídeo em janeiro de 2013, Fernando Gabeira, um dos
porta-vozes da esquerda brasileira, disse textualmente que a
guerrilha brasileira, durante o período da ditadura dos anos 64-80,
não pretendia implantar o socialismo, e sim a ditadura do
proletariado.
O que é esta ideologia ou conceito de governo ?
Ditadura do proletariado
Esta “democrática”
forma de governo pretende determinar a hegemonia da classe
trabalhadora sobre a “burguesia”, ou seja, banqueiros,
capitalistas, financiadores e empresários. Esta forma de governo
seria temporária, para depois desaguar no Comunismo.
Vamos analisar a
lógica desta forma de transição, no contexto Brasil, e até suas
derivações psicológicas.
Revolução Industrial e Capital
Em primeiríssimo
lugar, a Ditadura do Proletariado, quando ainda em estado de forma de
pensamento, só surgiu devido à viabilização da Revolução
Industrial. E quem financiou o aparelhamento material para a
Revolução Industrial foi a burguesia.
Perguntamos:
Qual é a entidade
social tem a competência para promover a melhoria da Sociedade ?
Por um acaso
poderíamos dizer que as Corporações de Ofício do feudalismo se
encaixariam neste tipo de entidade ?
É preciso ter em
mente que a simples Organização, SEM CAPITAL, só gera ordem, mas
não crescimento. As máquinas precisam de energia para trabalhar. Os
empreendimentos precisam de investimento para crescer. A ordem,
sozinha, é interessante, louvável e muito boa de se mostrar. Mas
não gera crescimento, não gera progresso. Progresso e melhoria só
são possíveis com investimento.
Existem dois tipos
de vocações pessoais frente ao trabalho:
Não entraremos
naqueles que tem um misto destes propósitos.
A Riqueza
Uma vez que tenhamos
pessoas contidas em cada um dos grupos de vocação citados, temos as
condições necessárias para criar Riqueza. Trabalho sozinho não é
riqueza. Capital sozinho também não o é.
A Riqueza é gerada
pela conjugação de Trabalho e Capital.
Socialismo
É a forma de
harmonização de Trabalho e Capital onde tanto os meios de produção
quanto sua distribuição são repartidos entre todos.
Os teóricos, no
entanto, nunca entraram no mérito do PISO MÍNIMO DE
SUSTENTABILIDADE PARA A SOCIALIZAÇÃO. Este piso pressupõe um
coeficiente inicial entre RIQUEZA e QUANTIDADE DE BENEFICIADOS.
Em outras palavras,
um país deve atingir um patamar mínimo de Riqueza para que se
comece a pensar na sua distribuição.
Nossa Riqueza
Em termos de Brasil,
temos que considerar a nossa extensão territorial, a densidade da
riqueza vegetal e mineral, as condições viárias para cobrir esta
extensão, a eficiência do Governo Federal para gerir a distribuição
tanto das matérias-primas quanto da produção, o volume de capital
disponível para financiar os meios para compatibilizar estes
parâmetros em algo que possa crescer e o sistema legal para que este
crescimento não seja emperrado.
O Brasil tem muita
riqueza potencial, armazenada em uma extensão muito grande, com uma
densidade populacional muito heterogênea, que está longe de se
transformar em Riqueza REAL no patamar mínimo para viabilizar a sua
distribuição. Nosso país tem mais pobreza do que riqueza para
distribuir.
Ainda importamos a
maior parte dos produtos de aço que nosso minério de ferro pode
produzir. Oferecemos gasolina e diesel ao consumidor com um preço
muito acima do que ele pode pagar, considerando o nosso potencial de
exploração. Oferecemos energia elétrica caríssima para uma
demanda de um país ainda em crescimento. Ainda não temos sequer UMA fábrica de automóveis de uma marca brasileira. E ao mesmo tempo exportamos
muito pouco em relação ao que temos disponível em matéria de
riqueza potencial.
A Rússia, em 1917,
não tinha nem pobreza para distribuir. Ela tinha realmente miséria
pura e simples. Citamos isto para que o leitor tenha a noção do
devaneio que os teóricos russos tiveram na época. E o Brasil
importa ideias sem ao menos as avaliar e questionar.
Algumas notícias
enfatizam que alguns poucos bilionários tem metade da riqueza de
todos os pobres no Brasil. Isto significa que eles possuem uma
riqueza que, uma vez distribuída, tornaria a vida dos pobres bem
melhor ? Não. E por que ? Porque o que temos de riqueza que circula
está num patamar pífio, medíocre, e bem abaixo do que um país de
dimensões continentais pode produzir.
Quando citamos
alguns requisitos no início deste item do artigo, um deles ficou de
lado:
A disposição individual para trabalhar.
A rotatividade nos
empregos, bem como o despreparo do trabalhador para a sua função, o
conformismo, a sensação de incapacidade para melhorar compõem um
sistema filosófico vigente e bem propagado verbalmente, a ponto de
virar cultura, de que não adianta se esforçar no Brasil. Vem as
desculpas de que a culpa é dos políticos (como se fossem eleitos
pelos Ets, e não pela própria população), da corrupção e dos
empresários.
Empresários são
tratados como inimigos. Patrões são tidos como algozes. Sindicatos
são tratados como se fossem instituições militares de resistência
ao patrão opressor e aos capitalistas. No Brasil não existe luta de
classes e sim guerra contra os ricos.
O trabalho é visto
como uma tortura, para alguns, e como abrigo para incapazes, por
outros. O trabalhador que ser auxiliado pelo governo. Daí sonha com
a distribuição de renda. O trabalho é visto como dever, ao invés
de ser visto como direito.
As pessoas, em nosso
país, tem uma visão individualista do trabalho, pensando somente no
recebimento do salário, ignorando o seu lado útil, que é o da
construção e manutenção da sociedades, e não só da própria
família.
O trabalhador já
reivindica, neste estágio tão primitivo de desenvolvimento do
Brasil, a divisão da riqueza, e pelo fato de ainda não ver tal
possibilidade se vê desmotivado, insatisfeito com o governo. E para conseguir isto, é capaz de outorgar a qualquer oportunista ou populista milagreiro o seu poder de decisão, pois espera mais dos outros do que de si mesmo.
Mas existe algo
ainda pior para prejudicar a mente do trabalhador.
Ideias externas de prosperidade
O brasileiro fica
deslumbrado com as teorias e ideologias que vem de fora. Ele ignora
que a Europa tem milhares de anos de história, tendo passado pela
Guerra dos Cem anos, Inquisição, Revolução Francesa (protótipo
para a luta pela igualdade e liberdade), Peste Negra, duas guerras
mundiais, guerra fria. Ignora igualmente que Estados Unidos já
passou por uma Guerra Civil e pela Guerra Fria, e que foi capaz de
gerar riqueza de forma acelerada por se preocupar com uma malha
ferroviária compatível e por ter uma cultura fortemente patriótica.
O espírito americano é coletivo. Eles se unem rapidamente para
resolver seus problemas e respeitam mais as suas leis do que nós.
Estamos mais
dispostos a sair do Brasil para fazermos nosso futuro do que a ficar
e fazê-lo funcionar como deve, utilizando a riqueza farta de que
dispomos. É mais fácil fugir do problema.
Conclusão
Ao propor a Ditadura do Proletariado, seus teóricos partiram de uma situação muito cômoda, estabelecida por terceiros, e não por eles mesmos. Depois que se estabeleceu uma classe que investiu na Revolução Industrial (1820-1840), em tempos muito difíceis, sem Mecânica de Precisão, sem computadores, sem a Mecânica pesada para extração de matérias-primas, estes teóricos vieram reivindicar o aproveitamento destes meios propiciados pelos investidores. O mundo foi tirado da obscuridade.
O movimento iniciado na Rússia, associado ao repúdio pela monarquia vigente, veio cedo demais, deixando influências em outros países, que viviam outros contextos. O Socialismo poderia, se não fosse pensado antes da industrialização, ser concebido sobre os contextos pós anos 1970, quando surgiu a indústria automobilística, verdadeira mobilizadora de recursos de várias áreas, e que propicia a ferramenta mais democrática de circulação tanto de mercadorias quanto de pessoas.
Karl Marx concebeu suas ideias sobre Capital e Trabalho sem observar a real dimensão que esta relação poderia atingir. Seria como exigir do grego Demócrito que concebesse a teoria atômica sem conhecimento das partículas atômicas e conseguir prever a fissão e a fusão nuclear, bem como os efeitos observados nos aceleradores de partículas. Seria o mesmo que pedir ao filósofo Sócrates que previsse os inúmeros Transtornos psicológicos registrados a partir dos anos 1990.
Precisamos ter a
nossa própria cultura. E qual deve ser a sua base ? A base deve ser
compatível com o nosso contexto, ou seja, reconhecer que moramos em
um grande país, reconhecer que somos individualistas, e que devemos
pensar no coletivo, sem ilusões socialistas. Temos que ter a
consciência de que não estamos no patamar social da Europa ou dos
Estados Unidos. O Brasil vai ter que trabalhar muito ainda, para
fazer jus à quantidade de riqueza potencial disponível no solo, em
termos minerais e vegetais.
E sobretudo, não
alimentar ilusões proporcionadas por ideologias que nunca deram
certo em outros países, ou que deram certo, porém num contexto
completamente diferente do Brasil.